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Leptospirose

A leptospirose é uma doença infecciosa febril de início abrupto, cujo espectro pode variar desde um processo inaparente até formas graves. Trata-se de uma zoonose de grande importância social e econômica, por apresentar elevada incidência em determinadas áreas, alto custo hospitalar e perdas de dias de trabalho, como também por sua letalidade, que pode chegar a 40%, nos casos mais graves.

——Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados. As inundações propiciam a disseminação da leptospirose e a persistência do agente causal no ambiente, facilitando a ocorrência de surtos.

Agente etiológico— da leptospirose

O agente etiológico da leptospirose é uma bactéria helicoidal (espiroqueta) do género Leptopsira. São conhecidas cerca de 14 espécies patogénicas, sendo a mais importante a Leptospira interrogans.  Cerca de 200 sorotipos identificados, cada uma com seu hospedeiro preferencial, mas todas podem causar as diversas manifestações clínicas. —No Brasil, os sorotipos Icterohaemorrhagiae e Copenhageni frequentemente estão relacionados aos casos mais graves.

Espiroqueta Lepstospira causador da leptospirose
Microfotografia electrónica de uma espiroqueta, a Lepstospira, um agente causal da leptotospirose

Reservatórios e hospedeiros

Os reservatórios da leptospira são animais sinantrópicos, animais domésticos e selvagens, sendo os principais a ratazana (esgotos, forma icterohemorrágica), rato preto (telha) e camundongo. Outros animais como caninos, suínos, bovinos, equinos, ovinos e caprinos também foram identificados como reservatórios da doença.
—Os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais e terminais dentro da cadeia de transmissão da leptospirose.

Modo de transmissão

—A infecção humana: ocorre por exposição direta ou indireta com a urina de animais infectados. —Outras modalidades de transmissão possíveis, porém com rara frequência, são: contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados, transmissão acidental em laboratórios e ingestão de água ou alimentos contaminados. A transmissão inter-humana é rara.

A penetração ocorre através da pele com presença de lesões, da pele íntegra imersa por longos períodos em água contaminada ou através de mucosas.

Ratos e outros roedores são os principais transmissores da leptospirose
Ratos e outros roedores são os principais transmissores da leptospirose

A infecção

—Período de incubação: varia de 1 a 30 dias (média entre 5 e 14 dias).

—Suscetibilidade e imunidade: a suscetibilidade no homem é geral, isto é, qualquer pessoa pode adquirir a doença. A imunidade adquirida pós-infecção é sorotipo-específica (depende do sorotipo), podendo um mesmo indivíduo apresentar a doença mais de uma vez se o agente causal de cada episódio pertencer a um sorotipo diferente do anterior.

Fisiopatologia

—Primeira fase: Invasão, proliferação e disseminação

—Segunda fase: resposta imune caracterizada por vasculite capilar resultando em:

  • ——Fígado: lesão direta causando necrose centrolobular e proliferação das células de Kupffer, com disfunção hepatocelular;
  • —Pulmão: lesão capilar alveolar difusa e focal; edema intersticial e intra-alveolar; sangramento que pode evoluir para hemorragia maciça;
  • —Rim: necrose tubular e, posteriormente, nefrite intersticial; a progressão para insuficiência renal pode ser rápida;
  • —Músculos: edema, vacuolização de miofibrilas e comprometimento vascular;
  • —Coração: petéquias no endocárdio, edema intersticial e infiltrado inflamatório no miocárdio e arterite coronariana;
  • —Sistema vascular: hipovolemia e choque; síndrome hemolítico-urêmica, púrpura trombocitêmica trombótica e vasculite;
  • —Supra-renal: necrose focal, hemorragia e infiltrado inflamatório; estas lesões não são aparentes clinicamente, mas, talvez, sejam responsáveis pelo colapso vascular final em casos fatais.

Manifestações Clínicas

—As manifestações clínicas variam desde formas assintomáticas e subclínicas até quadros clínicos graves associados a manifestações fulminantes.

—Fase Precoce

O início desta fase é súbito  e inclui febre, cefaleia, mialgia, anorexia, náuseas e vômitos, diarreia, artralgia, hiperemia ou hemorragia conjuntival, fotofobia, dor ocular e tosse, hepatomegalia, esplenomegalia e linfadenopatia (<20%). O exantema (eritema macular) ocorre em 10 a 20%. —Esta fase tende a ser autolimitada e regride em 3 a 7 dias, sem deixar sequelas.

Fase Tardia—

Ocorre em cerca de 15% dos casos de leptospirose. —Tipicamente iniciam-se após a primeira semana de doença, mas que pode ocorrer mais cedo, especialmente em pacientes com apresentações fulminantes

—Forma mais grave: Tríade de Weil (icterícia, insuficiência renal e hemorragias)

—Outras manifestações frequentes são: miocardite, acompanhada ou não de choque e arritmias, agravadas por distúrbios eletrolíticos; pancreatite; anemia e distúrbios neurológicos como confusão, delírio, alucinações e sinais de irritação meníngea.

Diagnósticos diferencias

—Fase precoce – dengue, influenza (síndrome gripal), malária, riquetsioses, doença de Chagas aguda, toxoplasmose, febre tifóide, entre outras doenças.

——Fase tardia – hepatites virais agudas, hantavirose, febre amarela, malária grave, dengue hemorrágico, febre tifóide, endocardite, riquetsioses, doença de Chagas aguda, pneumonias, pielonefrite aguda, apendicite aguda, sepse, meningites, colangite, colecistite aguda, coledocolitíase, esteatose aguda da gravidez, síndrome hepatorrenal, síndrome hemolítico-urêmica, outras vasculites, incluindo lúpus eritematoso sistêmico, dentre outras.

Seminário apresentado no Estágio de Infectologia no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo Brasil. 2012

Por Osvaldo Lourenço, MD

Referências

  1. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – 7. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.
  2. Santos, I. S. et al. Clínica médica. Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Savier. 2008
  3. Centro de Vigilância Epidemiológica. Disponível em http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/zoo/LEPTO_GVE11.html
  4. Leptospiosis. World Health Organization. Disponível em http://www.wpro.who.int/mediacentre/factsheets/fs_13082012_leptospirosis/en/
Especialidades: EMC , Infectologia Palavras-chave: ,

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