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O Milagre do Uso da Espironolactona para Hipertensão Resistente

A hipertensão resistente

É considerada hipertensão resistente quando os níveis de pressão arterial permanecem elevados (acima dos 140/90 mmHg) apesar do uso de 3 ou mais drogas anti-hipertensivas, sendo uma delas é um diurético.

O tratamento da hipertensão resistente ainda não está definido. A questão com a qual nos deparamos frequentemente na prática clínica é a seguinte: qual a 4ª classe de drogas anti-hipertensivas que se deve adicionar às 3 classes consideradas de primeira linha?

Estudos sugerem que nos casos de hipertensão primária (aquela em que não se demostra uma etiologia específica), a Hipertensão Resistente é causada pela retenção excessiva de sódio e que, por isso, a adição de um bloqueador dos mineralocorticoides, como a espironolactona,  é superior quando comparado com a adição de um medicamento anti-hipertensivo não-diurético.

A espironolactona é uma droga usada para hipertensão arterial primária ou (essencial). Actua como antagonista dos receptores da aldosterona, uma hormona mineralocorticoide produzida pelas glândulas supra-renais e que promove a reabsorção de sódio e excreção de potássio no rim. Desta forma, a espironolactona promove a excreção de sódio e retenção de potássio.

A espironolactona é usada também nos casos de cirrose hepática e está demostrado em ensaios clínicos os seus efeitos benéficos sobre o remodelamento cardíaco, reduzindo a mortalidade nos pacientes com insuficiência cardíaca sistólica, com fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor que 35%.

Qual a quarta droga?

Um estudo recente, publicada na revista Lancet sugere que a espironolactona apresenta maior eficácia como 4ª droga no tratamento da hipertensão resistente.

O estudo, designado PATHWAY-2, foi duplo-cego, randomizado e cruzado. Ao todo foram incluídos 335 pacientes com idade entre 18 e 79 anos, com hipertensão arterial [pressão sistólica (PAS) acima de 140 mmHg (ou > 135 mmHg para diabéticos)], considerados “hipertensos resistentes” (PA no domicílio ≥ 135/85 mmHg, aferido durante 4 dias), apesar do uso das doses máximas toleradas de 3 classes de fármacos (bloqueador dos canais de cálcio, inibidor da ECA ou BRA, e diurético tiazídico) em pelo menos 3 meses. Após os 3 meses, os pacientes foram randomizados para, de forma rotativa, receberem uma 4ª droga, nomeadamente espironolactona, bisoprolol (um bloqueador beta adrenérgico), doxasozina (um bloqueador alfa adrenérgico) ou placebo. Cada droga foi dada num ciclo de 12 semanas, numa ordem aleatória pré-definida. Após 6 semanas de cada ciclo a dose do fármaco foi dobrada.

No final da randomização, para além das medicações de base, 285 pacientes receberam espironolactona, 282 doxazosina, 285 bisoprolol, e 274 placebo; 230 patients completaram todos os ciclos de tratamento.

No final, a redução da pressão arterial no domicílio com a espironolactona foi estatisticamente superior à do placebo, à média de redução das outras 2 drogas juntas e superior quando comparada com as outras drogas individualmente. Cerca de dois terços dos pacientes que usaram a espironolactona conseguiram reduzir a PAS para baixo de 135 mmHg.

A eficácia da espironolactona foi inversamente relacionada com a actividade da renina plasmática dos pacientes, reforçado o papel fundamental da retenção excessiva de sódio pelo rim na fisiopatologia da hipertensão primária “difícil controle”. As baixas doses de espironolactona usadas neste estudo (25-50 mg por dia) são um décimo das doses padrão usadas ​​para tratamento na cirrose hepática. Espironolactona em dose baixa foi bem tolerada, com poucos de casos de hipercalemia (apenas 6 em 285) e quase nenhum ginecomastia.

Os autores do estudo concluíram que a espironolactona foi a mais efectiva 4ª droga no tratamento da hipertensão resistente. A superioridade da espironolactona reforça a importância da retenção salina na fisiopatologia na hipertensão resistente.

O que este estudo traz de novo?

Comentando os resultados deste estudo no practiceupdate.comRonald G Victor, MD afirma que “este estudo fornece novas evidências para uma velha ideia: ‘O milagre de baixas doses de espironolactona‘ [para hipertensão resistente] – a título de um artigo clínico de 1972 escrito pelo falecido Dr. John Laragh, um dos gigantes da hipertensão”.

Apesar de reconhecer que a espironolactona é claramente uma grande droga para casos difíceis de hipertensão primária, o Dr Victor destaca que não foi uma “comparação justa”, uma vez que o efeito hipotensor das drogas usadas na comparação é menor quando comparado com outras drogas da mesma classe, como o cardedilol e nebivolol, com maior efeito alfa-adrenérgico.

Leia o artigo original (abstract)

Especialidades: Cardiologia , Hipertensão , Medicina Interna Palavras-chave: , , , ,

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