Autor: Dr. Osvaldo Lourenço
Cardiologista pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo
Complementando em Ecocardiografia em Adultos
Antiarrítmicos
O sistema de condução é susceptível de alterações no seu funcionamento. Algumas destas alterações estão associadas à potenciais de acção patológicos, resultando e arritmias potencialmente fatais. A maioria dos fármacos utilizados para tratar estas arritmias actuam sobre o potencial de acção.
Os antiarrítmicos compreendem muitas classes de medicamentos diferentes com diferentes mecanismos de ação. Algumas classes e até mesmo alguns medicamentos dentro de uma classe são eficazes apenas com certos tipos de arritmias. Foram propostas diferentes formas de classificação dos fármacos, mas a primeira classificação foi propostas por Vaughan-Williams em 1970 e ainda é a mais utilizada.
A tabela a seguir mostra a classificação de Vaughan-Williams e o principal mecanismo de acção de cada classe. Note-se que as drogas de Classe I são subdivididas em subclasses por causa de diferenças sutis, mas importantes em seus efeitos sobre os potenciais de ação.
Classe | Mecanismo de acção | Observações |
---|---|---|
I | Bloqueiam os canais de sódio | Retardam a fase 0 (lentificam o aumento do potencial elétrico durante a despolarização) e o potencial elétrico de pico |
IA- | Moderado | Efeito moderado, aumentam a duração do potencial de acção (DPA) e aumentam o período refratário efectivo (PRE). |
IB- | Fraco | Pequeno retardo da fase 0, diminuem a DPA e reduzem o PRE |
IC- | Forte | Forte retardo da fase 0, não afectam a DPA nem o PRE |
II | Bloqueio dos receptores β adrenérgicos | Bloqueiam o estimulo simpático, reduzem a frequência cardíaca (FC) e lentificam a condução alétrica. |
III | Bloqueio dos canais de potássio | Retardam a fase 3 da repolarização, aumentam a DPA e o PRE |
IV | Bloqueio dos canais de cálcio | Bloqueiam os canais de cálcio tipo-L , mais efectivos no nó sinusal e no nó atrioventricular; reduzem a FC |
As fases do potencial de acção
Leia mais sobre o potencial de acção
A seguir descrevemos o mecanismo de acção de fármacos específicos
Digitálicos (digoxina)
Inibem a bomba Na/K-ATPase. O acúmulo de sódio no interior da célula faz com que o sódio seja removido por outro mecanismo, do Na+/Ca++. O sódio sai e o cálcio entra, o que permite o acúmulo de cálcio no intracelular. Isto aumenta a contratilidade do miocárdio (efeito inotrópico positivo). Também, por estimulação parassimpática (vagal), aumenta o período refratário do nodo sinusal e retarda a condução do nodo átrio ventricular (AV), levando a diminuição da frequência cardíaca (efeito cronotrópico negativo).
No caso de intoxicação digitálica, a entrada de cálcio pode continuar mesmo após terminar a repolarização da célula. Se este contínuo influxo de cálcio elevar o potencial acima do limiar, isto pode desencadear pós-despolarizações tardios potenciais de acção repetitivos e consequente taquiarritmias por actividade deflagrada. No caso de hipocalemia associada, aumenta ainda mais a entrada de cálcio, aumentando assim o risco de arritmias graves.
Veja mais sobre intoxicação digitálica
Quinidina e Procainamida
São fármacos antiarrítmicos da classe IA. Seu mecanismo consiste na inibição dos canais rápidos de sódio, impedindo a entrada de sódio durante a fase 0 do potencial de acção. Em certos indivíduos estes fármacos podem ter um efeito pró-arrítmico por prolongar do segmento ST ou por depressão da condução gerando reentrada.
Lidocaína
Antiarrítmico da classe IB, também inibe a corrente rápida de sódio e abrevia o intervalo QT. Sua acção é selectiva sobre tecido isquêmicos ou anormais.
Propafenona
Antiarrítmico da classe IC, inibe a corrente rápida de sódio na fase 0 sem alterar o intervalo ST. É usada principalmente para o tratamento de arritmias supraventriculares, incluindo síndrome de Wolf-Parkinson-White e fibrilação atrial recidivante.
Beta-bloqueadores
Antiarrítmico da classe II. Inibem as corrente If de despolarização espontânea (no nodo sinusal) e, indirectamente, os canais de Ca2+.
Amiodarona e sotalol
A amiodarona pertence aos antiarrítmicos da classe III. É um antiarrítmico complexo, porém se principal mecanismo é inibir a saída rápida de potássio durante a fase 3 do potencial de acção. Desta forma aumenta o período refratário efectivo em praticamente todos os tecidos cardíacos, o que faz dele um antiarrítmico de espectro amplo.
Diltiazem e Verapamil
Bloqueiam os canais de entrada do cálcio, mais frequentes nos tecidos nodais, em particular no nodo AV. São antiarrítmicos da classe IV.
Enviar Caso Clínico ou Traçado de ECG
Bibliografia consultada
- Baltazar, Romulo F. Basic and Beside Electrocardiography. Lippincott Williams & Wilkins, 2009.
- David M. Mirvis, e Ary L. Goldberger. “Eletrocardiografia.” Em Braunwald. Tratado de Doenças Cardiovasculares, por Douglas P. Zipes, Petter Libby, Robert O. Bonow e Eugene Braunwald, 107-147. Elsevier, 2006.
- Geva, Tal. “Imaging Criteria for Arrhythmogenic Right Ventricular Cardiomyopathy.” J Am Coll Cardiol, 2015: 65(10):996-998.
- Richard E. Klabunde, Vaughan-Williams Classification of Antiarrhythmic Drugs. Cardiovascular Pharmacology Concepts. Disponível em http://www.cvpharmacology.com/antiarrhy/Vaughan-Williams