Novas Diretrizes para Manuseio de Taquicardia Supraventricular
A American College of Cardiology (ACC), American Heart Association (AHA) e a Heart Rhythm Society (HRS) publicaram, na edição de 23 de Setembro do Circulation, uma das revistas de maior factor de impacto no mundo, as novas diretrizes para o manejo de pacientes com taquicardia supraventricular (SVT), um documento que levou cerca de 1 ano para ser concluído. As diretrizes, que não incluem o manuseio da fibrilação atrial, foram co-publicadas no Journal of the American College of Cardiology (JACC) e Heart Rhythm Journal.
As taquicardias supraventriculares (TSV), incluem as arritmias cardíacas com frequências auriculares e/ou ventricular acima de 100 batimentos por minuto. Estas incluem taquicardia sinusal, taquicardia atrial (TA), taquicardia juncional, taquicardia de reentrada nodal (TRNAV) e outras taquicardias reentrantes mediadas por via acessória (por exemplo, Wolf-Parkinson-White).
Tratamento Agudo e a Lango Prazo da Taquicardia Supraventricular
Com as novas diretrizes, o comitê de redação fornece recomendações para o tratamento agudo. As diretrizes mantêm recomendações do uso das manobras vagais (por exemplo Valsalva) e da adenosina para o tratamento agudo da TSV com intervalo R-R regular. A cardioversão eléctrica (CVE) sincronizada também é recomendada em doentes hemodinamicamente instáveis ou em pacientes estáveis onde a terapia com drogas é ineficaz ou contra-indicados (por exemplo pacientes com potencial de instabilização com uso de antiarrítmicos como amiodarona).
Além disso, as guidelines provêm recomendações para o gerenciamento contínuo dos pacientes TSV, incluindo, entre outras recomendações, o uso de beta-bloqueadores orais (atenolol, propranolol, metoprolol, etc.) e bloqeadores dos canais de cálcio (diltiazem ou verapamil) em pacientes sintomáticos, em ritmo sinusal e sem pré-excitação ventricular. As diretrizes notam ainda que um estudo eletrofisiológico para diagnóstico da arritmia e possível ablação pode ser útil.
Fazem parte do algoritmo do tratamento das TSVs a tomada de decisões compartilhadas, que inclua médicos, pacientes e seus familiares. Apesar de tratamentos com a ablação fazerem parte da primeira linha em pacientes sintomáticos, em muitos casos devem ser adoptadas com base na opção do paciente.
Uma outra novidade desta diretrizes, que não era incluída em outras, é a inclusão da Ivabradina no rol de opções para o tratamento das taquicardias supraventriculares. A ivabradina é uma droga relativamente nova usada para controle da frequência cardíaca (FC) em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) e FC acima de 70 bpm. A droga, que já foi aprovada pelo FDA, foi testada em pacientes com ICC, ritmo sinusal e que já tomavam beta-bloqueadores, por isso ela deve ser usada em associação com esta classe de medicamentos (desde que não existam contraindicações).
Apesar de reconhecerem que o uso da Ivabradina ainda é off-label, as diretrizes dizem que esta classe de droga é uma opção razoável para o tratamento de TSV em pacientes sintomáticos com ritmo sinusal anormal (grau de recomendação IIa, nível de evidência B-R).
Como parte de uma extensa revisão da literatura, os especialistas da ACC/AHA/HRS também abordaram as opções de tratamento para pacientes com Wolf-Parkinson-White (WPW) e pacientes assintomáticos com pré-excitação ventricular (padrão WPW no ECG). Destacam que, em pacientes que perdem pré-excitação, o teste de esforço pode ser útil para estratificação do risco de arritmia fatal. O desaparecimento da pré-excitação no esforço indica baixo risco de arritmias potencialmente fatais.
Também recomendam (classe IIa) o estudo eletrofisiólgico (EEF) em pacientes assintomáticos com pré-excitação, a fim de estratificar o risco estes eventos arrítmicos. E se este EEF identifica paciente de alto risco, a ablação por cateter também é uma opção razoável (classe IIa). Também consideram razoável a ablação de via acessória em pacientes assintomáticos com pré-excitação por razões de trabalho (por exemplo piloto de avião). No restante de pacientes assintomáticos com pré-excitação pode-se apesar fazer seguimento.
Estas diretrizes também abordam questões sobre a qualidade de vida, observando que os pacientes com TSV podem experimentar sintomas recorrentes que afetam negativamente suas atividades do dia-a-dia. Tonturas e síncope, provocada por taquicardia, podem ocorrem durante uma condução, por exemplo. Também destacam pontos sobre o custo-eficácia, fazendo comparação entre terapia medicamentosa vs ablação por cateter.
O grau de recomendação destas diretrizes variam de classe I (um forte recomendação que está clinicamente indicado / útil / benéfico ou deve ser realizado) até à classe III, o que significa que a terapia proporciona qualquer benefício ou é potencialmente prejudicial ou associada com o excesso de morbilidade/mortalidade.
No entanto, as novas diretrizes sobre TSV introduzem um método modificado de avaliação da qualidade da evidência, com a evidência que vão desde o nível A, o que significa evidência de alta qualidade a partir de mais do que um ensaio clínico randomizado, para o nível C, que inclui dados limitados de estudo observacional, não randomizado, ou estudos de Registro (nível C-LD) ou opinião de especialistas com base na experiência clínica (nível C-EO). Nível de evidência B inclui dados de ensaios clínicos randomizados (nível B-R) e ensaios não randomizados (nível B-NR).
Veja mais:
Diretrizes para manuseio de Taquicardias supravetriculares (página)