Hipertrofia ventricular esquerda
A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) é um importante factor de risco cardiovascular, independente da hipertensão arterial, quando diagnosticada tanto pelo electrocardiograma (ECG) quanto pelo ecocardiograma. Apesar de o ecocardiograma ser uma ferramenta com boa sensibilidade e especificidade, o custo e a variabilidade intra- e inter-observador limitam seu uso em larga escala.
Os padrões electrocardiográficos de HVE estão relacionados com o aumento da espessura das paredes e com o tamanho do VE. O tamanho do átrio esquerdo é também considerado, pois precocemente suporta os efeitos da sobrecarga que, paralela ou simultaneamente, alteram a anatomia do VE.
O ECG foi o primeiro método utilizado para detectar o aumento da massa cardíaca, existindo na literatura diversos critérios para seu diagnóstico, porém, todos com baixa sensibilidade. Em razão dessa baixa sensibilidade, os estudos de Framingham encontraram 1,5% da população com HVE e 1,7% com suspeita de HVE. Quatro anos depois, aproximadamente três quintos dos pacientes com HVE e um quinto dos com suspeita tinham apresentado eventos cardiovasculares fatais.
Vários critérios foram publicados e validados para o diagnóstico da hipertrofia ventricular esquerda no ECG.
Os mais usados são:
- Critérios de Sokolov-Lyon
- Critérios de Voltagem de Cornell
- Critérios de Romhilt-Estes
Critérios de Sokolov-Lyon
Um dos critérios mais antigos e ainda muito utilizado foi o proposto por Sokolow e Lyon em 1949. Utiliza-se da soma a amplitude da onda S na derivação V1 com a da onda R na derivação V5 ou V6 (sempre a maior das duas). Se a soma for igual ou maior que 35 mm, a HVE estaria presente23, entretanto, trabalhos e diretrizes utilizam valores de corte diferentes. Esse critério de voltagem é de valor mais duvidoso em indivíduos menores de 30 anos, ocorrendo mais falso-positivos. Em crianças, adolescentes e adultos jovens podem-se ver grandes ondas R, sem existir HVE.
- S em V1 + R em V5 ou V6 (usa-se a maior) ≥ 35 mm (≥ 7 quadrados grandes)
- R em aVL ≥ 11 mm
Critérios de Voltagem de Cornell
Casale et al. (1987) propuseram um critério electrocardiográfico de voltagem sexo-específico para o diagnóstico da HVE (critério de voltagem de Cornell). Consiste na soma da amplitude da onda R da derivação aVL com a onda S da derivação precordial V3 . A HVE seria estabelecida quando, nos homens, os valores fossem superiores a 28 mm e, nas mulheres, ultrapassassem 20 mm. Utilizou-se o ecocardiograma para a validação da presença de HVE e foi assim denominado por ter sido desenvolvido na Universidade de Cornell.
- S em V3 + R em aVL > 28 mm (homem)
- S em V3 + R em aVL > 20 mm (mulheres)
Critérios de Romhilt-Estes
Romhilt e Estes, em 1968, propuseram um sistema de pontua- ção em análise de diversas alterações eletrocardiográficas para o diagnóstico de hipertrofia (Tabela 1).
Para traçados eletrocardiográficos que apresentem no somatório quatro pontos, o diagnóstico é de provável hipertrofia, superior a cinco pontos, e o diagnóstico é definitivo
Veja como exemplo o ECG abaixo.
No traçado electrocardiográfico acima, com base nos critérios de Romhilt-Estes temos o diagnóstico de hipertrofia do VE, com um total de 7 pontos:
- V4, V5 e V6 apresentar onda R com amplitude maior que 30 mm – 3 pontos
- Padrão strain de V4 a V6 – 3 pontos
- Sinal de Morris (onda P negativa em V1) – 1 ponto
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[tab title=”Referências” ]
- The Romhilt-Estes Left Ventricular Hypertrophy Score and Its Components Predict All-Cause Mortality in the General Population.
- Análise crítica do eletrocardiograma e do ecocardiograma na detecção da hipertrofia ventricular esquerda. Rev Bras Hipertens vol.15(2):81-89, 2008
- Romhilt DW, Estes EH. Poit-score system for the ECG diagnosis of left ventricular Hypertrophy. Am Heart J 1968;75:752-8.
- Casale PN, Devereux RB, Alonso DR, et al. Improved sex-specific criteria of left ventricular hypertrophy for clinical and computer interpretation of electrocardiograms: validation with autopsy findings. Circulation 1987;75:565-72.
- Sokolow M, Lyon TP. The ventricular complex in left ventricular hypertrophy as obtained by unipolar precordial and limb leads. Am Heart J 1949;37:161-86.
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