Cateter Venoso Central e Complicações Intravasculares: Jugular, Subclávia ou Femoral?
Estudo sugere que o acesso venoso central com cateter pela veia subclávia apresenta menor risco de infecção da corrente sanguínea e menor risco de eventos trombóticos.
O cateterismo venoso central é a inserção de um cateter no sistema vascular com acesso ao sistema circulatório central. Os cateteres venosos centrais (CVC) são indicados para a infusão de líquidos, reposição hídrica e de eletrólitos, transfusões e coleta de sangue, com localização de sua extremidade na veia cava superior ou inferior. Os locais mais usados são a veia jugular interna, a subclávia e a femoral.
Um artigo recente publicado na edição de quinta feira, 24 de Setembro, no New England Journal of Medicine, sugere que o acesso venoso central com cateter pela veia subclávia apresenta menor risco de infecção da corrente sanguínea e menor risco de eventos trombóticos.
O estudo, que teve como objectivo avaliar o risco de infecções de corrente sanguínea e de trombose venosa profunda associado aos CVC, foi realizado em 3 centros incluiu 3471 inserções de CVC não tunelizados realizados em 3027 pacientes em Unidades de Cuidados Intensivos. O endpoint ou desfecho primário foi um composto de infecção da corrente sanguínea relacionada ao cateter e trombose venosa profunda sintomática. O pacientes foram randomizados em 3 grupos: jugular, subclávia e femoral.
O grupo femoral apresentou o risco de desfecho primário maior que o grupo subclávia (RR 3,5 com IC de 95%, p=0,003) e o grupo jugular apresentou risco de desfecho maior que o grupo subclávia (RR de 2.1 com IC 95% e p=0,04). O risco de desfecho no grupo jugular foi semelhante ao do grupo femoral. No entanto, os casos de pneumotórax com necessidade de toracocentese foram mais frequentes no grupo subclávia.
Assim, concluem os autores, o cateterismo-veia subclávia foi associado a um menor risco de infecção da corrente sanguínea e trombose sintomática porém com um maior risco de pneumotórax do que pelas veias jugular e femoral.
Leia o artigo original (Abstract)
Cateter Venoso Central
Um cateter venoso central (CVC), também conhecido como acesso venoso central ou simplesmente acesso central, é de um cateter colocado numa veia de grande calibre, sendo as mais utilizadas na prática clínica, as veias jugular interna (no pescoço), subclávia (no tórax) e a ou femoral (na região inguinal). O cateter venoso central é utilizado para administrar medicamentos ou fluídos, colher (coletar) sangue para exames laboratoriais (por exemplo saturação de oxigênio, lactato venoso e culturas), para medir a pressão venosa central e para terapia de substituição (por exemplo hemodiálise).
Os medicamentos que devem ser administrados através de CVC incluem alguns antibióticos, nutrição parenteral, drogas vasoativas (noradrenalina, vasopressina, dobutamina, dopamina, etc.), cloreto de cálcio, cloreto de potássio, quimioterápicos, hemoderivados, etc.
Em alguns casos, em especial em pacientes que necessitam de acesso venoso de longa duração (por exemplo, pacientes crônicos ou submetidos a quimioterapia), pode-se optar por cateteres com menos risco de infecção. Para estes casos, a PICC ou Port-a-Cath podem ser úteis.
Saiba mais
Quando um paciente tem indicação de quimioterapia de longa duração, uma das formas que facilita a administração venosa, além de também preservar suas veias é o implante de um cateter tipo “PORT-A-CATH”. O cateter tipo “PORT-A-CATH” é um dispositivo utilizado para administração de medicamentos, hidratação e eventualmente coleta de sangue . Uma opção segura e eficiente no manuseio de pacientes oncológicos. O procedimento é realizado em ambiente hospitalar, sob anestesia local, com sedação, guiado por imagem para o correcto posicionamento do cateter na veia cava superior. O cateter fica totalmente implantado, ou seja, nenhuma parte fica pra fora da pele.
Os cateteres venosos centrais podem ser classificados como de curta permanência, como os inseridos por punção de veia femoral, jugular interna e subclávia; ou de longa permanência, como o cateter venoso central de inserção periférica (PICC), os cateteres semi-implantados (Broviac e Hickman) e os totalmente implantados (Port-a-Cath).
Apesar de ser muito utilizada em ambientes de emergência e em Unidades de Cuidados Intensivos (UTI), a cateterização venosa central é um procedimento que possui riscos de complicações. As principais complicações são:
- Pneumotórax (principalmente pelas veias jugular e subclávia);
- Infecções da corrente sanguínea;
- Trombose venosa profunda, incluindo das membros superiores;
- Mau posicionamento (por exemplo, na artéria carótida ou na artéria femoral);
- Hemorragia;
- Arritmias, no caso de contacto do cateter com o endocárdio.
Na prática, as infecções da corrente sanguínea e o pneumotórax são as principais complicações associados à inserção de cateter venoso central. Por isso, técnicas estéreis são importantes para evitar que se tornem em porta-de-entrada para microrganismos patogénicos com o Stapyilococcus aureus.
Leitura Sugerida
- Jean-Jacques Parienti; Intravascular Complications of Central Venous Catheterization by Insertion Site. N Engl J Med 2015; 373:1220-1229.
- Lebeaux D, Fernández-Hidalgo N, Chauhan A, Lee S, Ghigo JM, Almirante B, Beloin C. Management of infections related to totally implantable venous-access ports: challenges and perspectives. Lancet Infect Dis. 2014 Feb;14(2):146-59
- Mermel LA, Farr BM. Guidelines for the management of intravascular catheter-related infections. J Intraven Nurs. 2001 May-Jun;24(3):180-205.